Protestos em Los Angeles: o que é a Guarda Nacional dos EUA?

Protestos em Los Angeles: o que é a Guarda Nacional dos EUA?

O presidente Trump mobilizou força militar de reserva para reprimir protestos na Califórnia, passando por cima do governador local. Saiba o que é e como funciona a Guarda Nacional dos EUA, e quando ela pode ser acionada. Soldados da Guarda Nacional na Califórnia posicionados no bairro de Paramount para conter protestos contra governo Trump em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 8 de junho de 2025.
REUTERS/Jill Connelly
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite do último sábado (08/06) que ordenou a mobilização de 2.000 militares da Guarda Nacional para conter protestos que eclodiram em Los Angeles na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares.
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Os primeiros militares começaram a chegar a Los Angeles ainda no domingo. A medida, no entanto, não conta com o apoio do governo do estado.
A decisão do presidente Trump de acionar os membros da Guarda Nacional marcou a primeira vez em seis décadas que um presidente mobilizou militares da reserva de um estado sem o consentimento do governador local.
Segundo o Brennan Center for Justice, a última vez que isso aconteceu foi em 1965, quando o então presidente Lyndon Johnson enviou tropas para garantir a proteção de uma marcha no estado do Alabama em defesa dos direitos civis da população negra, passando por cima da autoridade do segregacionista governador George Wallace.
O que é a Guarda Nacional?
A Guarda Nacional faz parte da reserva das Forças Armadas dos EUA e consiste em dois ramos: A Guarda Nacional do Exército e a Guarda Nacional Aérea.
Suas raízes remontam ao século 18, antes da independência dos Estados Unidos. Já o desenho atual foi formado em 1903 pela Lei Federal da Milícia e sua estrutura foi finalizada a partir de 1933.
De acordo com o Defense Manpower Data Center, órgão de coleta de dados do Departamento de Defesa dos EUA, a Guarda Nacional contava com 419 mil reservistas em 2023. A vasta maioria está no território continental dos EUA, enquanto outros 9.500 membros estão em territórios como Porto Rico, Guam e Ilhas Virgens.
Quais as funções da Guarda Nacional?
A Guarda Nacional tem uma ampla gama de funções e é frequentemente mobilizada para prestar assistência em casos de desastre.
Mais recentemente, ela foi chamada para ajudar durante os devastadores incêndios florestais na Califórnia em janeiro de 2025. Também foi mobilizada após o furacão Katrina em 2005, quando mais de 50.000 membros da Guarda Nacional ajudaram nas evacuações e operações de resgate e de restauração da ordem na cidade de Nova Orleans.
Ela também pode ser mobilizada para garantir a segurança interna, mas essa função é mais rara.
Após a invasão do Capitólio, a sede do Congresso dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, mais de 25.000 membros da Guarda Nacional foram posicionados em Washington D.C. para garantir a segurança da posse do presidente Joe Biden. Durante os protestos que eclodiram após a morte do afro-americano George Floyd em 2020, milhares de membros da Guarda Nacional foram mobilizados em vários estados para prestar apoio às forças policiais locais.
A Guarda Nacional também pode ser mobilizada para atuar em operações militares no exterior. Isso já aconteceu durante as guerras no Iraque e no Afeganistão.
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Quem comanda a Guarda Nacional?
Membros da Guarda Nacional Mexicana e do Exército Mexicano patrulham o muro da fronteira entre o México e os EUA nos arredores de Ciudad Juarez
REUTERS/Jose Luis Gonzalez
Cada estado dos EUA conta com uma Guarda Nacional, que cumpre uma missão dupla, estadual e federal.
É, antes de tudo, um órgão estadual, mas as unidades podem ser mobilizadas pelo presidente dos EUA para auxiliar as forças armadas do país. As unidades da guarda nacional dos estados geralmente recebem financiamento e treinamento federais.
Quando os reservistas são mobilizados para atuar dentro dos estados dos EUA, o governador do estado em questão geralmente assume o comando. Quando mobilizados em nível nacional, o presidente dos EUA é o comandante-chefe.
No entanto, o republicano Donald Trump decidiu passar por cima da autoridade do governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, ao mobilizar a Guarda Nacional em Los Angeles durante os protestos contra as ações do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (conhecido pela sigla ICE).
Trump citou preocupações com segurança nacional para passar por cima do governador.
O governador Newsom criticou a mobilização, acusando o governo Trump de tentar inflamar “deliberadamente” as tensões com sua intervenção. “[O governo federal] não está fazendo isso por causa da escassez de forças policiais, mas porque deseja um espetáculo”, disse Newson.
Quem pode se alistar na Guarda Nacional?
Em princípio, todos os cidadãos dos EUA são aptos para se alistar na Guarda Nacional. Entretanto, eles devem atender a determinados requisitos físicos, mentais e legais. A maioria dos membros da Guarda Nacional serve nas unidades em tempo parcial, mantendo outros empregos. Mas há também uma minoria que serve em tempo integral.
Os membros que concluíram o serviço militar no Exército também podem se candidatar para servir na Guarda Nacional. Em geral, eles não precisam de nenhum treinamento adicional.
Outra opção é o alistamento voluntário para serviço exclusivo na Guarda Nacional sem servir em unidades ativas. Nesse caso, o treinamento é concluído em uma instalação militar.
As tarefas típicas de um membro da Guarda Nacional incluem um fim de semana por mês e duas semanas ininterruptas por ano.
Os membros da Guarda Nacional recebem entre US$200 e US$600 (entre R$1.100 e R$ 3.300, aproximadamente) por serviço de fim de semana, dependendo de sua patente. Eles também têm subsídios para acomodação e refeições, assistência educacional e seguro-saúde. Os direitos à pensão também podem ser solicitados para períodos de serviço mais longos.
Histórico
A Guarda Nacional foi acionada no passado para atuar em vários momentos de tensão da história dos EUA.
Em setembro de 1957, o segregacionista governador Orval Faubus, do Arkansas, acionou a Guarda Nacional do seu estado para a impedir a entrada de nove alunos negros na High School de Little Rock.
Diante disso, o então presidente Dwight Eisenhower ordenou uma intervenção na Guarda Nacional do Arkansas e utilizou a força para garantir a segurança dos estudantes.
Em 1965, foi a vez de o presidente Lyndon B Johnson federalizar a Guarda Nacional do Alabama depois que o governo segregacionista local reprimir manifestantes pacíficos que marchavam de Selma a Montgomery.
Em 1968, a Guarda Nacional também foi mobilizada durante os protestos que se espalharam pelo país após o assassinato do líder dos direitos civis, Martin Luther King.
Na década seguinte, a Guarda Nacional viveu seu período mais sombrio em 1970, quando seus membros mataram quatro estudantes desarmados na Universidade de Kent, no estado de Ohio, que protestavam contra a Guerra do Vietnã.
Em 1992, membros da Guarda Nacional da Califórnia também foram convocadas para ajudar no reestabelecimento a ordem em Los Angeles na esteira de protestos violentos que eclodiram após quatro policiais brancos serem absolvidos pelas agressões cometidas contra um homem negro, Rodney King.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/09/protestos-los-angeles-o-que-e-a-guarda-nacional-eua.ghtml

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