Irã cogita deixar tratado de não proliferação nuclear em meio a troca de ataques com Israel

Irã cogita deixar tratado de não proliferação nuclear em meio a troca de ataques com Israel

Parlamentares iranianos preparam projeto de lei para deixar tratado, do qual Irã é signatário desde 1970, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Até o início desta segunda (16), ataques entre Irã e Israel deixou ao menos 224 mortos no Irã e 22 em Israel. Irã lança novos mísseis contra Israel
Parlamentares iranianos estão preparando um projeto de lei que pode levar Teerã a sair do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), informou o Ministério das Relações Exteriores nesta segunda-feira (16), ao mesmo tempo em que reiterou a posição oficial do país contra o desenvolvimento de armas nucleares.
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“À luz dos acontecimentos recentes, tomaremos uma decisão apropriada. O governo deve implementar os projetos aprovados pelo parlamento, mas essa proposta ainda está em fase de elaboração e vamos coordenar com o parlamento nas etapas seguintes”, afirmou o porta-voz do ministério, Esmaeil Baghaei.
O TNP, ratificado pelo Irã em 1970, garante aos países o direito de buscar energia nuclear para fins civis, em troca do compromisso de renunciar às armas nucleares e cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU observador de programas nucleares.
Israel começou a bombardear o Irã na sexta-feira passada, sob a justificativa de que Teerã estaria prestes a construir uma bomba nuclear. O Irã sempre declarou que seu programa nuclear tem fins pacíficos, embora a AIEA tenha afirmado na semana passada que o país está violando suas obrigações previstas no TNP.
O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, reiterou nesta segunda-feira que as armas nucleares vão contra um decreto religioso emitido pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
A mídia estatal iraniana informou que ainda não foi tomada nenhuma decisão pelo parlamento sobre deixar o TNP, enquanto um parlamentar afirmou que a proposta ainda está nos estágios iniciais do processo legal.
Baghaei afirmou que desenvolvimentos como o ataque de Israel “naturalmente afetam as decisões estratégicas do Estado”, observando que o ataque aéreo israelense veio após a resolução da AIEA —que, segundo ele, teria pavimentado o caminho para a agressão.
Israel, que nunca aderiu ao TNP, é amplamente tido como um país que possui armas nucleares, embora o governo israelense não confirme nem negue isso. Baghaei reforçou essa noção ao dizer que o rival “é o único detentor de armas de destruição em massa na região [do Oriente Médio]”.
Troca de ataques entra no 4º dia
O mais grave confronto direto entre Irã e Israel continua a se intensificar e chegou ao quarto dia nesta segunda-feira (16), após um fim de semana marcado por centenas de mortes, ataques diurnos e de longo alcance. A escalada do conflito preocupa líderes mundiais e aumenta a tensão entre as potências do Oriente Médio.
Israel lançou a “Operação Leão Ascendente” com um ataque surpresa na sexta-feira (13), matando parte da cúpula militar iraniana e danificando instalações nucleares. O Irã respondeu com mísseis que atingiram áreas residenciais e instalações de petróleo em Israel.
Até o início desta segunda, ao menos 224 pessoas morreram no Irã e 22 em Israel — incluindo crianças —, com base em informações das autoridades dos países. Um único ataque em Teerã, no sábado (14), deixou 60 mortos, metade crianças. Em Israel, o ataque mais recente desta segunda (16), deixou quatro mortos, segundo comunicado do serviço de emergência do país.
A ofensiva israelense continua e deve se intensificar. Autoridades disseram que ainda há “uma longa lista de alvos” no Irã. No entanto, há tentativas de conversas por um acordo de cessar-fogo.
Mísseis lançados do Irã em direção a Israel são interceptados em Ashkelon
Reuters/Oren Ben Hakoon
Alvos atingidos no Irã e em Israel
O conflito entre Israel e Irã atingiu um novo patamar de intensidade e entra em uma fase delicada, com riscos de novos desdobramentos regionais e impactos econômicos globais.
Áreas residenciais, principalmente em Teerã, instalações nucleares e de petróleo foram atingidas no Irã. Já em Israel, ataques atingiram refinarias e cidades, como Tel Aviv, que foi atacada também na madrugada desta segunda, no horário local.
Mísseis israelenses atingiram o ministério da Defesa do Irã, em Teerã. Um dos prédios do Ministério das Relações Exteriores também foi atacado e deixou feridos, segundo uma autoridade iraniana.
Vídeo mostra Israel atingindo alvo em Teerã
Um dos principais pontos atacados por Israel na sexta foi a instalação de enriquecimento de urânio de Natanz, no Irã. Neste domingo, uma autoridade informou ao “The Wall Street Journal” que os bombardeios podem ter implodido as instalações subterrâneas de Natanz.
O Ministério do Petróleo do Irã confirmou que o depósito de combustível e gasolina de Shahran, no Teerã, pegou fogo durante o ataque israelense na noite de sábado. Testemunhas relataram que o depósito foi tomado por um grande incêndio. A informação é do “The New York Times”.
O objetivo declarado dos israelenses é desmantelar o programa nuclear iraniano, que Israel considera uma ameaça à sua existência. É consenso na comunidade internacional que os israelenses mantêm seu próprio programa nuclear secreto, mas o país não é signatário do tratado para não proliferação nuclear.
Segundo um oficial das Forças de Defesa de Israel, o Irã possui urânio suficiente para construir ogivas nucleares em questão de dias. O regime iraniano também está em um estágio avançado de um programa nuclear secreto para desenvolver uma bomba. Ao menos seis cientistas do programa iraniano foram mortos por Israel.
Mísseis do Irã cruzam céus da Cisjordânia em ataque a Israel
No sábado, as Refinarias de Petróleo de Israel informaram que seus dutos e linhas de transmissão em Haifa foram danificados por ataques com mísseis lançados pelo Irã, segundo comunicado regulatório enviado à Bolsa de Valores de Tel Aviv.
A empresa afirmou que não houve feridos ou mortes nos locais atingidos e que as instalações de refino continuam operando, apesar da paralisação de algumas operações secundárias.
Com a reabertura dos mercados nesta segunda, há expectativa de volatilidade nos preços do petróleo, que já haviam subido 9% na sexta-feira. Traders buscam contratos de longo prazo como forma de proteção. Analistas esperam novos ataques israelenses, com possível ampliação das ações sobre infraestrutura energética iraniana.
Um homem observa as chamas subindo de uma instalação de armazenamento de petróleo após ataque israelense em Teerã, Irã, na madrugada de domingo, 15 de junho de 2025
AP Photo/Vahid Salemi
Chefe de Inteligência morto no Irã
No domingo, foram registrados ataques aéreos e de mísseis diurnos significativos em ambos os países, marcando uma escalada nas hostilidades recentes.
Israel realizou seu ataque de maior alcance atingindo uma aeronave de reabastecimento aéreo no Aeroporto de Mashhad, no extremo leste do território iraniano, a cerca de 2,3 mil quilômetros do país israelense.
Mashhad foi descrita pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) como o alvo mais profundo atingido dentro do Irã desde o início das operações militares contra o país na semana passada.
Ainda no domingo, os ataques de Israel em Teerã mataram o chefe de Inteligência da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Kazemi. Hassan Mohaqeq, vice de Kazemi, e o general Mohsen Baqeri também morreram no bombardeio.
Já o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, foi morto nos primeiros bombardeios de Israel, na sexta-feira (13). Os ataques também mataram o chefe das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri.
Sistema de defesa aérea Domo de Ferro de Israel intercepta mísseis sobre Tel Aviv, Israel, na madrugada de domingo (15)
Foto AP/Leo Correa
Irã vulnerável para ataques aéreos
O professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, em entrevista à GloboNews, disse que o Irã mostra dificuldade em defender seu território da aviação israelense, o que revela um desnível importante entre os dois países.
Segundo ele, a ofensiva de Israel começou em outubro do ano passado. À época, os israelenses destruíram toda ofensiva iraniana – os quatro grupos de lançadores de mísseis de defesa. Isso fez com que, agora, o Irã não tenha condição de defender o próprio território.
“Se a gente quiser fazer uma frase: hoje, os céus iranianos são de Israel”, afirmou o especialista.
A análise reforça que o Irã pode optar por estratégias indiretas — como ações de milícias aliadas — se não conseguir responder à altura militarmente.
224 mortos no Irã; 22 em Israel
O Ministério da Saúde do Irã informou neste domingo que os ataques israelenses no país mataram 224 pessoas e feriram 1.277 desde a sexta-feira. O porta-voz do ministério, Hossein Kermanpour, afirmou que 90% dos mortos eram civis.
Segundo a agência Reuters, um único ataque matou 60 pessoas no sábado em um prédio de apartamentos de 14 andares, destruído em Teerã.
Um soldado israelense observa estragos após mísseis disparados do Irã atingirem um prédio residencial, em Tamra, norte de Israel, em 15 de junho de 2025
Ammar Awad/Reuters
Em Israel, segundo informações oficiais, o número de mortos desde o início do conflito era de 22 pessoas, incluindo crianças e mulheres, e de 390 feridos até a madrugada da segunda-feira (16), quando mais cinco mortes foram confirmadas pelo serviço de emergêncxia de Israel.
Equipes de resgate vasculham escombros de prédios residenciais destruídos por mísseis iranianos, usando cães farejadores e escavadeiras pesadas para procurar sobreviventes.
Forças de Defesa de Israel atuam no resgate de sobreviventes após ataque do Irã

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/16/ira-cogita-deixar-tratado-nao-proliferacao-nuclear-ataques-israel.ghtml

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