A imposição de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, anunciada no começo deste mês pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode provocar um abalo histórico na indústria de armas do Brasil.
A Taurus, maior fabricante nacional e uma das principais fornecedoras de pistolas para os EUA, admite que poderá transferir toda sua produção para o território norte-americano. As tarifas, segundo a empresa, ameaçam diretamente 15 mil empregos.
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Oeste apurou que conselheiros e diretores da Taurus estão apreensivos com a iminente taxação dos produtos brasileiros. Como as leis do país dificultam o acesso de armas a civis, a maioria da produção de pistolas da Taurus (90%) é destinada para os norte-americanos, que consomem esses produtos com mais intensidade.
No ano passado, por exemplo, mais de 200 mil pistolas da Taurus foram vendidas para os EUA. Com o tarifaço, os custos de exportação ficariam proibitivos e comprometeriam a competitividade da empresa brasileira diante de concorrentes norte-americanos, como Smith & Wesson e Ruger. Em caráter reservado, uma fonte revelou a Oeste que as empresas de armas dos EUA aprovam a decisão de Trump.
Por que a Taurus depende dos EUA
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que, em 2024, cerca de 60% das exportações brasileiras de armas e munições foram para os Estados Unidos. Pouco mais de 50% dessas vendas se originaram no Rio Grande do Sul. O Estado concentra não apenas a planta da Taurus, mas também parte importante de sua cadeia de fornecedores.
O CEO global da empresa, Salésio Nuhs, alertou para o impacto das tarifas. “Se realmente perdurar essa questão da taxação de 50%, várias empresas e vários segmentos no Brasil ficarão inviabilizados”, disse o empresário, em entrevista ao site Berlinda. “Ela não significa simplesmente diminuir margem. Significa inviabilidade total. Não existe margem que possa cobrir uma taxação de 50%.”
Nuhs criticou a atuação do governo brasileiro na negociação com os EUA. “Essa falta de habilidade está trazendo uma insegurança jurídica muito grande para os empresários do Brasil e uma insegurança para o trabalhador, que pode perder seu emprego simplesmente porque o governo não conseguiu negociar”, observou.
Os efeitos do tarifaço de Trump
A eventual saída da Taurus do Brasil poderia desencadear uma crise econômica no município de São Leopoldo. De acordo com estimativas locais, R$ 520 milhões em exportações estão ligados ao mercado norte-americano, valor que representa quase 5% do PIB da cidade.
Analistas do setor armamentista afirmam que, sem os EUA, a Taurus dificilmente manteria a atual escala de produção. O mercado norte-americano é o maior do mundo para armas curtas e se constituiu ao longo de décadas como base principal da empresa brasileira. A tentativa de redirecionar a produção para outros países esbarra em barreiras comerciais e em menor potencial de consumo.
Taurus enfrenta queda nas vendas
Mesmo antes do tarifaço, a Taurus enfrentava desaceleração. Depois de crescer fortemente entre 2018 e 2021, com vendas saltando de 1,2 milhão para 2,3 milhões de armas, o volume voltou ao patamar de 1,2 milhão em 2024. A queda foi provocada pela normalização da demanda pós-pandemia nos EUA e pelo endurecimento da política de armas no Brasil sob o governo Lula.
O anúncio de Trump, que relacionou as tarifas ao tratamento dado pela Justiça brasileira ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acentuou a tensão no setor. Bolsonaro, antes de ser proibido de usar redes sociais, disse que não comemorava as tarifas, mas condicionou o fim delas a uma eventual anistia.
Futuro incerto
Com fábricas no Brasil, nos EUA e uma joint venture na Índia, a Taurus avalia a transferência integral de sua operação para o mercado norte-americano. No entanto, especialistas duvidam da viabilidade do plano. A empresa poderia perder sua principal vantagem: preços mais competitivos em relação aos rivais norte-americanos, garantidos pelo custo de produção mais baixo no Brasil.
Se o cenário não mudar até 1º de agosto, a Taurus terá três opções: 1) substituir a demanda norte-americana por outro país, o que parece improvável; 2) receber subsídios do governo federal e operar em prejuízo; ou 3) apostar na flexibilização das leis brasileiras e contar com aumento no consumo nacional.
*Joint venture é uma parceria empresarial em que duas companhias se unem para criar um negócio, a fim de dividir investimentos, riscos e lucros.
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