A perigosa ‘guerra’ entre Trump e o governador da Califórnia em meio aos protestos em Los Angeles

A perigosa ‘guerra’ entre Trump e o governador da Califórnia em meio aos protestos em Los Angeles
Trump mobilizou a Guarda Nacional para conter os protestos contra batidas migratórias na Califórnia, desencadeando uma queda de braço legal e política com o governador Newsom. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, estão travando uma tensa queda de braço em relação aos protestos contra as políticas migratórias da Casa Branca que assolam Los Angeles desde o fim de semana.
A tensão atingiu um novo patamar depois que a Guarda Nacional foi mobilizada no domingo (8/6) sem o consentimento do governo da Califórnia.
A medida, ordenada por Trump em resposta aos protestos contra as batidas do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês), foi descrita como “ilegal” e “provocativa” por Newsom, que entrou com uma ação judicial contra o governo federal.
Trump justificou, por sua vez, a mobilização da Guarda Nacional dizendo que precisava restaurar a ordem, e defendeu que o governador da Califórnia deveria ser preso por “obstrução”. Newsom respondeu desafiando o governo Trump a fazer isso.
O Exército americano também anunciou na segunda-feira (9/6) que enviou 700 fuzileiros navais para a região de Los Angeles para dar cobertura às forças federais durante os protestos.
E, pouco depois, Newsom escreveu no X (antigo Twitter) que foi informado sobre a mobilização de mais 2 mil soldados da Guarda Nacional na cidade da Califórnia.
“Os primeiros 2 mil? Sem comida nem água. Apenas cerca de 300 estão mobilizados; o restante está parado, sem uso, em prédios federais sem ordens”, denunciou o governador na postagem.
“Não se trata de segurança pública. Trata-se de inflar o ego de um presidente perigoso. Isso é imprudente. Inútil. E desrespeitoso com nossas tropas”, acrescentou.
A disputa entre Trump e o governador gira em torno do uso do Título 10 do Código dos EUA, uma disposição legal que permite ao presidente federalizar as tropas da Guarda Nacional sob certas condições.
Nesta ocasião, Trump invocou a lei para assumir o controle direto das forças de segurança enviadas ao sul da Califórnia.
Embora a mobilização tenha sido oficialmente limitada à proteção de agentes federais, a presença militar nas ruas de Los Angeles gerou preocupação e críticas de autoridades locais, juristas e ativistas.
A mobilização da Guarda Nacional
Cerca de 2 mil soldados da Guarda Nacional começaram a se deslocar para locais estratégicos em Los Angeles no domingo, após vários dias de protestos contra as batidas migratórias do ICE em bairros predominantemente latinos.
O presidente mobilizou o contingente invocando o Título 10, para federalizá-los, e colocá-los sob seu comando direto sem a aprovação de Gavin Newsom.
Em circunstâncias normais, os governadores mantêm o controle de suas respectivas unidades da Guarda Nacional, mesmo quando elas recebem financiamento federal.
No entanto, o Título 10 permite que o presidente assuma o poder em casos excepcionais, como uma rebelião ou quando as leis federais não podem ser cumpridas.
De acordo com o gabinete do governador, Trump não invocou a Lei de Insurreição — uma via legal mais clara para este tipo de mobilização —, o que levantou dúvidas sobre a legalidade da manobra.
As tropas não estão diretamente envolvidas no controle dos protestos ou nas prisões, mas fornecem apoio aos agentes federais.
No entanto, especialistas enfatizam que essa função de proteção traz riscos, pois os soldados podem estar envolvidos no uso da força.
Trump x Newsom
E foi a mobilização da Guarda Nacional em Los Angeles que levou a uma escalada de tensão entre Trump e Newsom, que se envolveram em um confronto político e pessoal repleto de trocas de farpas e ameaças.
Trump sugeriu que Newsom deveria ser preso por se opor às medidas federais.
“Eu faria isso se fosse o Tom. Acho que seria ótimo… Ele fez um trabalho terrível”, declarou o presidente no domingo, do lado de fora da Casa Branca, fazendo alusão ao seu “czar de fronteira”, Tom Homan.
Homan havia advertido anteriormente na rede Fox News que “nenhuma autoridade está acima da lei”, e que aqueles que interferem na aplicação da lei de imigração podem enfrentar acusações de obstrução da Justiça.
Newsom respondeu com uma publicação desafiadora na plataforma de rede social X: “Prendam-me. Vamos acabar logo com isso, valentão”.
“O presidente dos EUA acaba de pedir a prisão de um governador em exercício. Este é um dia que eu esperava não ver nos EUA… É uma fronteira que não podemos cruzar como nação”, acrescentou.
Após a troca de farpas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, acusou Newsom de agir de forma negligente diante dos distúrbios em Los Angeles, alegando que “autoridades federais foram atacadas por radicais violentos e criminosos ilegais”.
Trump intensificou, por sua vez, sua retórica ao chamar os manifestantes de “insurrecionistas” e “agitadores profissionais”, dizendo que eles “deveriam estar na prisão”.
Em declarações divulgadas pela imprensa americana, o presidente insistiu que sua decisão de enviar as tropas foi “excelente”, e chamou Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de “ingratos” por criticarem uma medida que, na sua opinião, impediu que a cidade fosse “completamente destruída”.
Karen Bass também interveio publicamente no conflito: em entrevista à rede CNN, ela pediu ao governo federal para “baixar o tom”, e disse que as batidas migratórias que desencadearam os protestos são “uma receita para o caos completamente desnecessária”.
O governo do Estado da Califórnia entrou com uma ação judicial contra o governo Trump, alegando que a mobilização de tropas excede a autoridade do governo federal e viola a Décima Emenda, que estabelece o limite entre os poderes executivos central e estaduais.
Newson também alertou que o decreto presidencial poderia abrir um precedente para futuras intervenções em outros Estados.
“Era exatamente isso que Trump queria (…) Agora ele pode fazer a mesma coisa em qualquer lugar do país”, afirmou o governador na rede social X.
Ele acrescentou que “todo governador, seja republicano ou democrata, deveria rejeitar esse excesso ultrajante”.
Duas visões políticas
A queda de braço entre Trump e Newsom reflete não apenas uma disputa sobre poderes, mas também uma luta entre duas visões políticas opostas, com um contexto subjacente mais amplo que vem se formando há anos.
A Califórnia se declarou um “Estado santuário” em 2018, limitando a cooperação de suas autoridades com as agências federais de imigração — e, em 2024, o Conselho Municipal de Los Angeles aprovou uma medida ainda mais rigorosa, proibindo destinar recursos locais para operações migratórias.
Trump criticou duramente essas políticas, por acreditar que elas fomentam um ambiente de “anarquia” no Estado democrata.
No caso de Newsom, uma figura importante dentro do Partido Democrata, alguns analistas sugerem que a crise atual oferece uma oportunidade para ele fortalecer seu nome a nível nacional ao enfrentar o presidente dos EUA.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/10/a-perigosa-guerra-entre-trump-e-o-governador-da-california-em-meio-aos-protestos-em-los-angeles.ghtml

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