O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, voltará a se encontrar com o presidente do iFood Brasil, Diego Barreto, nesta semana. A dupla viralizou na internet algumas semanas atrás, em um vídeo no qual cantavam Garota de Ipanema durante um jantar com empresários e apoiadores de Lula.
Desta vez, ambos participarão como palestrantes do Fórum Esfera, evento que, segundo os organizadores, discutirá “o que há de mais urgente para o avanço do Brasil”. Além deles, também vão falar aliados do governo Lula e empresários interessados em processos em que tramitam no STF.
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🚨Barroso foi pego cantando de novo. Desafinado, talvez queira nos convencer de que seus votos não são o pior. Mas a festa era de pessoas que têm processos no STF. Barroso, se leva sua função pública a sério, deve se declarar suspeito para esses casos imediatamente pic.twitter.com/T2SPeRhoSj
— Andre Marsiglia (@marsiglia_andre) May 26, 2025
Entre os participantes confirmados estão:
- Luiz Fux, ministro do STF;
- Ricardo Lewandowski, ex-ministro do STF e atual ministro da Justiça;
- Ana Estela Haddad, secretária do Ministério da Saúde e mulher de Fernando Haddad;
- Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central e ex-assessor de Haddad;
- Aloizio Mercadante, presidente do BNDES e fundador do PT;
- Os governadores Helder Barbalho (Pará) e Raquel Lyra (Pernambuco), aliados de Lula.
O iFood tem interesse direto em ações no Supremo, especialmente sobre o reconhecimento de vínculo empregatício entre entregadores e plataformas de entrega.
Outro participante é o CEO da Vale, Gustavo Pimenta. A mineradora está envolvida em um processo no STF que discute a cobrança de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido sobre sobre as subsidiárias no exterior — uma disputa estimada em R$ 22 bilhões. O julgamento virtual do caso começou nesta sexta-feira, 6, mesmo dia de abertura do evento.
Outros nomes confirmados incluem André Esteves, presidente do conselho do BTG Pactual, João Adibe, CEO da Cimed, e Wesley Batista, acionista controlador da J&F. Os donos da companhia, Joesley e Wesley Batista, já foram presos por suspeitas de uso de informação privilegiada e omissão de informações em delações.
Em outubro passado, Barroso já havia sido criticado por participar de outro evento do grupo Esfera, em Roma, também com empresários interessados em ações no STF. A participação de ministros do Supremo, como Barroso e Dias Toffoli, e outras autoridades gerou gastos públicos de quase R$ 150 mil.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, cantou a canção “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira, junto com o sertanejo Léo Chaves da dupla Vitor e Léo na festa do presidente do Republicanos, Marcos Pereira. O artista convidou o ministro… pic.twitter.com/wxVioSSACf
— BNews (@bnews_oficial) April 24, 2025
Grupo lobista organizou evento com Barroso e CEO do iFood
O Fórum Esfera é o principal evento promovido pelo Esfera Brasil, que se define como um “think tank independente e apartidário que reúne empresários, empreendedores e a classe produtiva”. Assim como o Grupo Lide, de João Doria, é conhecido por organizar grandes eventos, no Brasil e no exterior, que juntam empresários com autoridades públicas.
O fundador do grupo, João Camargo, é dono de uma grande de investimentos e sócio da CNN Brasil e da BandNews FM. Ele também é sogro do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas.
O casamento entre Dantas e a filha de Camargo, no começo de 2024, contou com a presença de Barroso, outros seis ministros do STF e diversos políticos do alto escalão de Brasília, além de empresários influentes.
Segundo um analista político ouvido pelo jornal Gazeta do Povo, sob anonimato, eventos como os promovidos pelos grupos Esfera e Lide são importantes espaços de lobby entre o setor público e o privado.
“Hoje em dia o Judiciário decide praticamente tudo, e isso explica boa parte dos problemas que temos no Brasil. E esse aumento de poder do STF nos últimos anos acabou gerando aquilo que a gente fala de judicialização da política”, afirma. “Quem perde no voto vai recorrer ao Supremo, e isso também acaba gerando essa relação com empresários — e não estou falando apenas do grupo Esfera.”
O analista observa ainda que o grupo Esfera não costuma assumir posições públicas sobre os temas debatidos nos eventos. “Tanto o João Camargo quanto o Bruno Dantas são pessoas muito influentes, com muito acesso, o que serve como uma plataforma para criar esse espaço de interação”, explica. “Então eles vendem acesso [a figuras do poder] para seus associados, mas não têm um posicionamento como instituição.”
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