O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Nova York para uma conferência da ONU sobre o conflito Israel−Hamas. Todavia, não há confirmação de que autoridades do governo Donald Trump receberão representantes brasileiros para dialogar sobre as tarifas dos EUA de 50% sobre produtos do Brasil.
Até o momento, o chanceler não planeja ir a Washington, já que não houve resposta positiva da Casa Branca para encontros oficiais. Fontes diplomáticas informam que Vieira e a Embaixada do Brasil na capital dos EUA comunicaram às autoridades norte-americanas a disposição para conversas, caso haja garantia de diálogo com representantes autorizados por Trump.
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O governo brasileiro, entretanto, descarta qualquer concessão em temas políticos ligados ao tarifaço, como processos judiciais relativos ao ex-presidente Jair Bolsonaro ou posturas do Judiciário.
Segundo um funcionário da Casa Branca ouvido na última sexta-feira, 25, pelo jornal Folha de S.Paulo, o governo Trump entende que o Brasil não apresentou propostas relevantes para negociar os tributos. Para integrantes do Executivo brasileiro, essa declaração pode indicar uma tentativa dos EUA de responsabilizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo impasse, além de sugerir interesse em pautas políticas, algo rejeitado pelo Planalto.
Em carta enviada a Lula em 9 de julho, Trump justificou parcialmente o aumento das tarifas com a menção de uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro e a de “centenas de ordens” judiciais que restringem a liberdade de expressão. O Executivo brasileiro reitera que busca um debate restrito à esfera comercial para discutir as tarifas.
Trump confirma tarifaço em 1º de agosto
Neste domingo, 27, Trump afirmou que não vai adiar o prazo de 1º de agosto para a entrada em vigor das novas tarifas. A Casa Branca elabora um decreto para fundamentar legalmente a medida. Ainda assim, integrantes do governo Lula esperam que seja divulgado um cronograma de implantação em vez da aplicação imediata das tarifas nesse dia.
🇺🇸 Fecharam acordo com os EUA:
– Japão
– União Europeia
– Inglaterra
– Vietnã
– Argentina
– Indonésia
– FilipinasNegociações avançadas
– China
– Índia
– Coreia do Sul
– Tailândia
– Canadá
– SuíçaE o Brasil segue fora da lista, com a tarifa mais alta do mundo.
— Rafael Fontana (@RafaelFontana) July 27, 2025
Ainda em maio, o governo brasileiro enviou uma carta ao presidente norte-americano com sugestões de isenção para alguns produtos e concessões, antes do anúncio do aumento das tarifas de 10% para 50%. Há duas semanas, Mauro Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin enviaram novo ofício, com exigência de resposta e críticas à retórica utilizada por Trump para justificar o tarifaço.
Desde então, diplomatas brasileiros relatam tentativas frequentes de manter um diálogo com o governo dos EUA, mas informam que a gestão Trump mantém o tema centralizado na Casa Branca e restringe o contato formal.
Senadores vão aos EUA em missão parlamentar
Paralelamente, uma delegação de oito senadores brasileiros, liderada por Nelsinho Trad (PSD-MS), viajou a Washington para tratar das tarifas. Fazem parte do grupo Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP), Jaques Wagner (PT-BA), Carlos Viana (Podemos-MG), Rogério Carvalho (PT-SE), Esperidião Amin (PP-SC) e Fernando Farias (MDB-AL).
A agenda inclui compromissos na Embaixada do Brasil, reuniões com empresários na Câmara de Comércio dos EUA e encontros com parlamentares norte-americanos. Durante a missão, marcada para terminar na próxima quarta-feira, 30, o grupo busca sensibilizar especialmente o setor privado dos EUA para pressionar Trump a negociar.
A participação de ex-ministros de Bolsonaro gerou insatisfação no deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que defende sanções dos EUA contra o ministro Alexandre de Moraes e foi peça-chave para o tarifaço anunciado por Trump.
Embora o governo brasileiro aposte na mobilização empresarial norte-americana para evitar as sobretaxas, interlocutores do Executivo admitem que as reuniões tendem a ter impacto prático limitado. Equipes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentaram contato com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, mas foram informadas de que a decisão está sob responsabilidade direta da Casa Branca.
Por sua vez, Geraldo Alckmin conversou por 50 minutos com Howard Lutnick, secretário do Comércio dos EUA, no sábado 19, e reforçou a disposição brasileira de negociar. Dados divulgados pela Bloomberg revelam que o governo dos EUA prepara um novo decreto, com uma declaração de emergência econômica como instrumento jurídico para as tarifas, embora os detalhes ainda não tenham sido divulgados.
Trump também afirmou que existe déficit comercial dos EUA com o Brasil, mas esse dado é incorreto, já que os norte-americanos têm superávit na relação. O governo dos EUA deve buscar justificativas adicionais para embasar o decreto, além das alegações políticas feitas até o momento.
O post Chanceler de Lula chega aos EUA, mas sem sinal de reunião com governo Trump apareceu primeiro em Revista Oeste.