Nessa última sexta-feira (21), 432 famílias receberam as chaves de seus novos apartamentos e 1.304 imóveis foram regularizados no município de Embu das Artes. O investimento total de R$ 82,7 milhões, financiado pelo Governo do Estado por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), concretizou um direito há muito aguardado por milhares de moradores.
O evento contou com a presença de autoridades estaduais, incluindo o governador Tarcísio de Freitas e o secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Marcelo Branco. Mas, além dos discursos oficiais e das solenidades, há uma história marcada pela resistência popular, articulação política e persistência de lideranças comunitárias que transformaram um projeto em realidade.
Entre os principais nomes dessa luta, três figuras tiveram papéis fundamentais: Edmilson Lopes, Rosalvo e Gera Juncal (in memoriam). Eles protagonizaram uma batalha que começou muito antes da entrega das chaves.
2007: O início de uma luta que parecia impossível
A história desse projeto remonta a 2007, quando Edmilson Lopes identificou a necessidade de transformar uma área industrial em um espaço de moradia para famílias de baixa renda.
Em entrevista, ele relembra os primeiros passos da mobilização:
Edmilson Lopes: “Essas matérias do jornal Centelha de 2012 foram alguns dos exemplares que rodamos na época. Mas nossa caminhada começou antes, entre 2007 e 2008, quando apresentei esse terreno ao Rosalvo e ao irmão dele, Salgueiro. Nós três assumimos a ideia de criar o Residencial Fama.”
O primeiro grande desafio foi a regularização do terreno, que estava destinado para fins industriais. Sem essa mudança, as moradias não poderiam ser construídas.
Edmilson Lopes: “Inicialmente, o plano era que as moradias fossem construídas por mutirão, com participação direta das famílias, como ocorreu no Parque Pirajussara. Mas, com a entrada da Caixa Econômica Federal e do Governo do Estado, o projeto passou a ser executado por construtoras.”
A mudança no zoneamento da área exigiu anos de negociações políticas e inúmeras reuniões com diferentes esferas do governo.
Edmilson Lopes: “Fomos à CDHU, eu, Rosalvo e Salgueiro, para apresentar o projeto. A partir daí, iniciamos uma trajetória que incluiu diversas reuniões com o governador Alckmin e o então prefeito de Embu, Chico Brito, para garantir a mudança de zoneamento. O prefeito condicionou a alteração ao atendimento das demandas habitacionais da cidade. Nesse processo, contamos com o apoio de várias lideranças sindicais, como o Manelão, o Chico Terra e a Rosângela, que atuava no movimento social.”
Rosalvo: A articulação política que tornou o projeto viável
Enquanto Edmilson Lopes esteve à frente da mobilização comunitária, Rosalvo foi o principal responsável pela articulação política, garantindo que o projeto avançasse dentro do governo estadual.
Edmilson Lopes: “O Rosalvo era nossa linha direta com o Alckmin na época. Ele sempre foi bem relacionado com o governo do Estado de São Paulo.”
Sua influência foi decisiva para destravar processos burocráticos e viabilizar os recursos necessários para o andamento do projeto. Sem sua intermediação, os avanços teriam sido ainda mais demorados.
Gera Juncal: O técnico que tornou o sonho realidade
Entre os principais responsáveis pela concretização das moradias, Gera Juncal (in memoriam) teve um papel essencial nos bastidores, garantindo que o projeto atendesse a todas as exigências técnicas para sua aprovação pela CDHU.
Edmilson Lopes: “O Gera foi uma peça fundamental. Ele acompanhou todo o processo técnico, priorizando o projeto dentro da prefeitura. Sempre que precisávamos levar documentos para a CDHU, ele estava à frente. Além dele, o Adelmo também teve participação importante nessa fase.”
Gera Juncal não apenas trabalhou para que as moradias fossem aprovadas, mas também enfrentou burocracias e desafios administrativos que poderiam ter comprometido a realização do projeto.
Edmilson Lopes: “Infelizmente, o Gera agora só está na memória. Mas, se hoje esse residencial existe, é porque ele dedicou tempo e esforço para que isso acontecesse.”
A importância dos movimentos sociais
Além das negociações políticas e dos esforços técnicos, os movimentos sociais foram determinantes para manter o projeto vivo. Rosangela Santos, uma das principais líderes da mobilização por moradia na cidade, conta os desafios enfrentados ao longo dessa jornada.
Rosangela Santos: “O projeto Fama foi organizado pelos movimentos de moradia, que lutam para dar moradia digna às famílias que mais precisam. Nossa luta foi iniciada em 2008, onde nossos desafios foram viabilizar o terreno e recursos para construção, processos extremamente burocráticos e morosos. Nessa trajetória, tivemos o desmonte do Minha Casa Minha Vida nas gestões Temer e Bolsonaro, dificultando o acesso das famílias. E foi nesse momento que a esperança aumentou, e não desistimos. A luta continuou e conseguimos os recursos do Crédito Associativo, programa do Governo do Estado. Por isso hoje é um momento muito especial para mim, a entrega das chaves, um sonho realizado e a emoção de ver a felicidade no olhar das pessoas.”
A entrega das chaves : uma vitória da mobilização popular
Os Residenciais Adriano Branco e Antônio Conselheiro foram entregues com infraestrutura completa, incluindo dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e lavanderia, além de áreas comuns como playground, salão de festas e espaços de convivência.
As famílias contempladas foram indicadas pela Entidade Organizadora Núcleo Betel, responsável pela coordenação do processo de seleção dos beneficiários.
Para Edmilson Lopes, a entrega das chaves representa um marco da luta popular em Embu das Artes.
Edmilson Lopes: “Esse projeto mostrou que a luta popular dá resultado. Mas sabemos que ainda há muitas famílias sem moradia. O compromisso agora é continuar batalhando por novas conquistas.”
A história da habitação popular em Embu das Artes é um exemplo de como a persistência da comunidade, aliada à articulação política e ao conhecimento técnico, pode garantir direitos fundamentais e transformar a vida de milhares de pessoas.
A luta ainda não terminou, mas o que antes era apenas um terreno vazio hoje se tornou um lar para centenas de famílias.
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Fonte: https://embunews.com.br/geral/da-luta-a-conquista-moradia-digna-em-embu-das-artes/