Governo Lula infla dados sobre internet em escolas públicas

Governo Lula infla dados sobre internet em escolas públicas

Em meio a pilhas de computadores encaixotados e um laboratório de informática desativado, a realidade do Centro Educacional Irmã Maria Regina, na zona rural de Brasília, revela um abismo entre o discurso oficial e o cotidiano escolar. O jornal O Estado de S. Paulo divulgou as informações nesta quarta-feira, 23.

A unidade permanece fora do alcance de uma conexão estável, obrigando alunos e professores a improvisarem soluções para tarefas básicas. Mesmo assim, o Ministério da Educação (MEC) a classifica como bem conectada.

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O caso não é isolado: segundo levantamento com base em dados do próprio MEC, 15,4 mil escolas públicas apresentam velocidade de rede abaixo do mínimo exigido, mas aparecem nos registros oficiais como adequadas para o uso pedagógico.

A disparidade ocorre porque o governo utiliza múltiplas fontes para definir a qualidade da conexão escolar. Entre elas estão autodeclarações feitas por diretores, secretarias estaduais e dados de programas anteriores.

O medidor oficial de velocidade, único instrumento reconhecido por resolução federal, tem sido ignorado quando aponta resultados abaixo do esperado.

Internet escolar serve mais ao discurso do que à prática

O governo Lula estabeleceu como meta conectar todas as escolas públicas do país até 2026. Para isso, prevê R$ 8,8 bilhões em investimentos.

Mas, na prática, o programa sofre com falhas metodológicas e critérios de avaliação frágeis, o que compromete a confiabilidade dos dados.

Em nota, o MEC reconheceu limitações na aplicação do Medidor Educação Conectada. Segundo a pasta, o uso do software depende da iniciativa dos gestores escolares.

Com a remoção frequente do programa dos equipamentos, a coleta de dados sofre interrupções. Por isso, o governo decidiu incluir fontes alternativas de verificação — muitas sem aferição técnica confiável.

A escola Irmã Maria Regina, por exemplo, deveria ter conexão de 431 Mbps, mas o medidor oficial registrou apenas 61 Mbps. Ainda assim, o MEC a considerou como se tivesse 800 Mbps disponíveis.

A distorção aparece em todo o Brasil. Em São Paulo, o número de escolas classificadas como conectadas, mas que não atingem o mínimo exigido, ultrapassa 1,8 mil unidades. Paraná e Minas Gerais também superam a marca de mil casos.

Governo ignora resolução e contorna o próprio padrão

A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas determina que a qualidade da rede escolar deve ser aferida exclusivamente pelo medidor oficial.

No entanto, o ministério insiste em validar informações paralelas. Isso infla artificialmente os índices de conectividade no país e mascara a exclusão digital, que persiste nas salas de aula.

“Barreiras geográficas e territoriais não são justificativas plausíveis para permitir desigualdade do acesso à internet tão profunda quanto existe”, afirma Paloma Rocillo, diretora do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.

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Ela também integra o conselho consultivo da Anatel e defende o uso de padrões robustos para medição da qualidade da conexão escolar.

Dados do Estadão mostram que, das 137,9 mil escolas públicas, apenas 67,8 mil atingem a velocidade considerada adequada quando analisadas exclusivamente pelo medidor oficial. Isso representa menos da metade. Outras 49,7 mil funcionam com conexões abaixo do mínimo. E mais de 6,6 mil seguem sem nenhum tipo de internet.

A ausência de infraestrutura básica, como energia elétrica estável e cobertura de rede, ainda limita a conectividade em regiões inteiras. Diante disso, o MEC criou um novo índice, o Indicador Escolas Conectadas, que atribui notas de 1 a 5 às instituições.

Só aquelas com nota 4 ou 5 serão classificadas como adequadas — mas os dados finais ainda não foram divulgados. A Secretaria de Educação do Distrito Federal não comentou o caso da escola citada.

O ministério, por sua vez, manteve a posição de que a inclusão de múltiplas fontes é “essencial” para capturar a realidade nacional.

Especialistas, entretanto, ressaltam que, sem uma métrica única, clara e tecnicamente aferida, o Brasil continuará apostando em números que não se sustentam na prática pedagógica.

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Fonte: https://revistaoeste.com/politica/governo-infla-dados-sobre-internet-em-escolas-publicas/

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