Por trás da retórica de solidariedade com os palestinos, o descondenado-em-chefe que “tomou o poder” no Brasil (o que não tem nada a ver com vencer eleições, já diria um camarada seu) torna a lançar mão daquilo que estudiosos do antissemitismo — como Deborah Lipstadt, Robert Wistrich, Jeffrey Herf e Yehuda Bauer — identificaram como um fenômeno recorrente na política contemporânea: a inversão do Holocausto.
A lógica é simples e perversa. Os judeus, vítimas do maior genocídio do século 20, passam a ser retratados como algozes. E os que desejam sua destruição — mesmo quando armados e explícitos em seus intentos — tornam-se, por uma pirueta retórica habitual nos bas-fonds universitários mundo afora, mártires da história. Ao acusar Israel de cometer genocídio contra palestinos e afirmar que o país “se faz de vítima”, o presidente brasileiro reativa esse mecanismo simbólico, com a desenvoltura de quem sabe muito bem o que está fazendo e o amparo de uma cultura política que aprendeu a disfarçar o antissemitismo de “anticolonialismo” (mais especificamente, de antissionismo).
Não é a primeira vez. Em 2024, ao comparar as ações de Israel em Gaza ao Holocausto, o sujeito já rompera os limites da crítica política legítima. O governo israelense respondeu à altura, declarando-o persona non grata. Agora, reincide na infâmia — e a reincidência é a marca dos que não erram por ignorância (ou não apenas por ela), mas por convicção ideológica.
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Depois de despertar de um longo sono e de sua leniência para com a esquerda nacional, a Confederação Israelita do Brasil finalmente reagiu com firmeza, classificando a fala presidencial como uma forma clássica de antissemitismo. A Embaixada de Israel, por sua vez, denunciou a declaração como propaganda do Hamas. E com razão. O uso sistemático da linguagem dos direitos humanos para demonizar o único Estado judeu do mundo revela não apenas má-fé política, mas uma disposição antiga e persistente de projetar sobre o povo judeu os símbolos do mal absoluto.
“A inversão do Holocausto não é apenas um erro moral”
No teatro mental da esquerda globalista, Israel ocupa o lugar que antes era reservado ao “judeu capitalista”: é a figura do opressor universal, o inimigo perene da justiça. E para manter essa narrativa de pé, é preciso distorcer os fatos, silenciar os atentados, ignorar os reféns e criminalizar qualquer reação defensiva. Ao afirmar que Israel “se faz de vítima”, o marido da Janja resgata o velho estereótipo do judeu manipulador – aquele que dramatiza o próprio sofrimento para controlar e explorar. O antissemitismo não precisa mais ser gritado; hoje, basta que se insinue com ar moralizante.
Como não bastasse a difamação verbal, há o contexto diplomático que a acompanha: o presidente brasileiro insiste em se aproximar dos regimes mais hostis a Israel, flerta com o Irã, acolhe narrativas do Hamas e, como anunciou recentemente, receberá no Brasil um enviado do ditador Xi Jinping para tratar da “regulação da internet” — uma coincidência de intenções que diz muito sobre sua concepção de “democracia”. A simbologia é eloquente: enquanto acusa Israel de genocida, busca inspiração num regime que censura, vigia, persegue e envia minorias étnicas e dissidentes políticos a campos de concentração.
Como teria dito Mark Twain, a história não se repete, mas às vezes rima. No presente caso, de forma macabra. A inversão do Holocausto não é apenas um erro moral. É um crime contra a memória e o atestado da ignomínia que caracteriza o regime brasileiro presente.
Leia também: “Israel na encruzilhada”, reportagem de Miriam Sanger publicada na Edição 258 da Revista Oeste
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