Em entrevista concedida ao Oeste Sem Filtro desta segunda-feira, 16, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich, avaliou as declarações do governo brasileiro a respeito do conflito entre Israel e Irã.
De acordo com o diplomata, algumas posições adotadas por autoridades brasileiras, inclusive ligadas ao partido governista, não têm sido justas nem condizentes com os valores democráticos do Brasil.
Erdreich ressaltou que a relação entre Brasil e Israel é histórica, anterior ao atual governo, e baseada em laços duradouros de amizade. No entanto, ponderou que “vimos algumas declarações, palavras que achamos que não são justas em relação ao conflito entre Israel e Irã no Oriente Médio”.
Para o cônsul, parte dessas manifestações decorre de desconhecimento. “Várias pessoas que fizeram essas declarações têm mal entendido ou um pouco ignorante sobre o que está acontecendo no Oriente Médio e qual é o conflito, as raízes desse conflito”, disse.
O diplomata israelense explicou que o objetivo atual da ação militar de Israel é limitado à neutralização de dois projetos estratégicos do regime iraniano: o desenvolvimento de armamento nuclear e a produção de mísseis balísticos. “Nosso objetivo é destruir o projeto nuclear, é destruir o projeto de mísseis balísticos. Não temos mais objetivos nesta guerra”, afirmou.
Segundo ele, esses projetos são componentes de uma estratégia iraniana que remonta à Revolução Islâmica de 1979, com metas que incluem “destruir o Estado de Israel”, “criar uma hegemonia de Islã xiíta no Oriente Médio” e “expandir o islã xiíta em todo o mundo”.
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Erdreich chamou atenção para o arsenal de mísseis produzido pelo Irã e o considerou desproporcional. “Eles estavam criando esses mísseis em quantidades enormes, queriam chegar a 10 mil mísseis desse tipo”, revelou.
Perguntado sobre o risco de fornecimento de urânio do Brasil ao Irã, o cônsul afirmou não ter informações concretas, mas admitiu que a preocupação existe. “O Irã está tentando conseguir produtos químicos e também urânio para todos os projetos que eles têm”, alertou.
Erdreich afirmou esperar que o atual conflito seja curto, mas condicionou seu fim ao desmonte completo dos projetos iranianos ou a um eventual acordo entre Estados Unidos e Irã. “Este vai durar entre dias e semanas, espero que vá ser o mais curto possível”, disse.
Ao comentar diretamente as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o cônsul foi crítico. “Às vezes, não entendo essa aproximação do governo do Brasil com o regime do Irã”, declarou. Para ele, tais falas “não são muito produtivas” e “estão ao contrário dos interesses do Brasil, como país democrático, ocidental, liberal”.
Sobre o papel da imprensa brasileira na cobertura do conflito, Erdreich afirmou que falta profundidade na análise dos fatos. “A percepção do jornalismo, às vezes, não é muito profunda“, avaliou o cônsul.
Segundo ele, há uma incompreensão do contexto histórico e da postura defensiva de Israel. “Israel está considerando uma potência, mas, no fim, temos que recordar que Israel, durante sua história, não ameaçou ninguém”, afirmou. “Tem um pouco de injustiça quando o jornalismo ou a mídia está atacando o Israel sem ter esta história.”
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