Relatório do Orçamento ignora estimativas de aumento de despesas

Relatório do Orçamento ignora estimativas de aumento de despesas

O relator do Orçamento de 2025, senador Angelo Coronel (PSD-BA), incluiu no parecer a previsão de um superávit de R$ 15 bilhões nas contas públicas neste ano. O relatório ignora o aumento de despesas obrigatórias e os riscos de uma arrecadação abaixo do esperado, projetados por especialistas e consultores do próprio Congresso Nacional.

O Orçamento está em votação no Congresso nesta quinta-feira, 20. Caso as previsões dos técnicos se confirmem, ele estará inflado e o governo vai precisar cortar despesas ao longo do ano para cumprir a meta de resultado primário, que visa equilibrar receitas e despesas, e respeitar o arcabouço fiscal, que limita os gastos federais.

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O Congresso optou por reestimar para cima a arrecadação federal e ampliar o espaço para emendas parlamentares em relação ao projeto original do governo Lula. No entanto, técnicos recomendavam uma postura mais cautelosa, devido às condições econômicas deste ano.

Câmara dos Deputados aprovou projeto nesta terça-feira, 18 | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Ao apresentar o parecer na Comissão Mista de Orçamento (CMO), Angelo Coronel disse que o Orçamento “é justo, equilibrado e atende as necessidades do Brasil”. O senador também “Talvez não seja a peça perfeita, mas foi um tempero que pode contemplar o Congresso Nacional, o Poder Judiciário, o Poder Executivo e o povo brasileiro em geral.”

Precatórios não entraram na conta da meta fiscal

O governo tem como meta zerar o déficit nas contas públicas em 2025, mas há tolerância de até R$ 31 bilhões negativos, conforme autorizado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O cumprimento nominal da meta será possível. Isso porque o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a exclusão de R$ 44,1 bilhões em despesas com precatórios da conta. 

Sem a contabilização dos precatórios, o governo projetou um superávit de R$ 3,7 bilhões ao enviar o Orçamento ao Congresso. Com as modificações feitas no parlamento, o superávit passou para R$ 15 bilhões.

O aumento do superávit foi possível principalmente pelo aumento na previsão de arrecadação de impostos federais, com uma reestimativa de R$ 22,5 bilhões. 


No relatório, o senador alega que, “em razão do teto de gastos em vigor, o excesso de arrecadação estimado no Relatório da Receita, depois da repartição tributária com Estados, Distrito Federal e Municípios e a complementação da União ao Fundeb, contribui para melhorar a projeção desse resultado”.

A proposta prevê uma arrecadação de R$ 28,6 bilhões com a volta do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o tribunal da Receita Federal. Em 2024, o governo estimou que essa medida poderia gerar R$ 54,7 bilhões, mas, na prática, menos de R$ 300 milhões foram arrecadados. 

Para 2025, integrantes da equipe econômica já admitiram que a medida novamente não deve gerar os resultados esperados. Além disso, a previsão de crescimento econômico menor neste ano levou técnicos a sugerirem uma abordagem mais conservadora para o Orçamento, o que não aconteceu.

Aumento de despesas obrigatórias pode gerar uma pressão de R$ 33 bi no Orçamento 

O senador Angelo Coronel subiu a projeção de gastos com benefícios previdenciários em R$ 8 bilhões, depois do aumento do salário mínimo e da inflação, que impactam diretamente os pagamentos a aposentados e pensionistas, além do seguro-desemprego e do abono salarial. O valor foi sugerido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, e o relator atendeu à solicitação do governo.

Consultores da Câmara dos Deputados alertaram que o aumento das despesas obrigatórias pode gerar uma pressão de R$ 32,8 bilhões no Orçamento deste ano, devido aos reajustes do salário mínimo e à inflação. Na prática, isso deverá obrigar o governo a cortar gastos para cumprir as regras fiscais e não executar o Orçamento aprovado.


O relatório também ignorou outras pressões. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que as despesas do programa Pé-de-Meia sejam inseridas no Orçamento, mas essa inclusão ainda não foi oficializada. 

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o relator não atendeu ao pedido do governo de permitir que o benefício fosse adicionado posteriormente às contas do governo sem a autorização do Congresso. O TCU determinou que o Executivo elabore uma proposta para resolver essa questão, e as despesas vão precisar da aprovação pelo Legislativo.

Além disso, o relator não incluiu no Orçamento os R$ 8 bilhões para o Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais, criado pela reforma tributária. A reforma obriga a União a depositar o valor em 2025, mas o governo não incluiu o recurso no Orçamento deste ano, e o relator só alocou R$ 80,9 milhões. 

Presidente Lula usa terno preto e discursa com um microfone na mão
Governo Lula terá que pagar R$ 100 bilhões em precatórios em 2025 | Foto: Ricardo Stuckert/PR

No entanto, a pedido do Executivo, o senador deixou uma autorização para que o governo adicione esse valor por ato próprio durante o ano, desde que corte outras despesas para não comprometer a meta fiscal. Esse fundo está fora do teto do arcabouço fiscal, ele impacta o equilíbrio entre receitas e despesas.

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