Pneus compõem estratégia improvisada de defesa das aeronaves de guerra, segundo especialista. Ataque surpresa ucraniano com drones escondidos em contêineres atingiu um terço da frota aérea militar da Rússia em bases militares do rival. Alguns dos aviões de guerra da Rússia alvejados por ataque surpresa de drones da Ucrânia em 1º de junho de 2025 tinham pneus em cima da fuselagem.
Serviço de Segurança da Ucrânia
No mega-ataque surpresa da Ucrânia contra aviões de guerra da Rússia, um detalhe chamou a atenção: a presença de pneus sobre as aeronaves russas, vistos nas imagens gravadas pelos drones ucranianos que invadiam as bases aéreas do rival no último domingo (1º).
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Os dois países estão em guerra desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Esses pneus não estavam lá por acaso. Eles compõem uma estratégia improvisada de defesa de aeronaves estacionadas em bases militares, segundo um especialista em estudos estratégicos ouvido pelo g1.
A borracha presente nos pneus pode absorver parte do impacto de explosões ou de fragmentações causadas por drones kamikaze, como os utilizados pela Ucrânia no ataque surpresa, para oferecer uma camada adicional de proteção às aeronaves, afirmou o professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard Vitelio Brustolin.
No entanto, os pneus não ajudaram tanto assim, aponta o professor. Isso porque os drones ucranianos foram treinados com um sistema de inteligência artificial para ajudar no ataque, tanto na rota de voo quanto onde acertar as aeronaves onde causa mais dano —na região do tanque de combustível.
Ainda segundo Brustolin, os pneus também podem atuar como isolantes térmicos, para diminuir a emissão de calor dos aviões de guerra e, consequentemente, torná-las menos visíveis para sensores infravermelhos utilizados por drones e mísseis guiados por calor.
Pneus sobre aviões russos
Arte/g1
Nas imagens do ataque divulgadas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), alguns dos caças de combate russos com pneus em cima foram alvejados pelos drones, e em outros casos o projétil desacelerou quando chegava perto da camada de pneus, sobrevoou as aeronaves por mais algum tempo antes de detonar (Veja no vídeo abaixo)
Os pneus —utilizados em maior quantidade em alguns dos casos— também alteram a silhueta em uma tentativa de dificultar a identificação das aeronaves pelo sistema de reconhecimento visual utilizado pelos drones, que utiliza perfis pré-carregados, segundo Brustolin.
Veja imagens inéditas do ataque surpresa de drones da Ucrânia a aviões de guerra russos
Batizado de “Operação Teia de Aranha”, o ataque ucraniano surpresa de drones atingiu 41 aviões bombardeiros da Rússia, correspondente a um terço da frota de artilharia aérea de longo alcance, em cinco bases militares diferentes no domingo (1º). Leia mais sobre o ataque abaixo.
Especialistas em guerra consideraram o ataque ousado por parte dos ucranianos e humilhante para o presidente russo, Vladimir Putin, porque os bombardeiros russos alvejados, incluindo os modelos A-50, Tu-22M e Tu-95, servem como plataformas de lançamento de ogivas nucleares. Eles compõem a frota aérea mais avançada da Rússia, com 121 aeronaves do tipo, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).
Devido a sua importância estratégica, a localização dessas aeronaves nunca foi um segredo, afirmou o professor Vitelio Brustolin. A transparência no seu posicionamento faz parte de tratados de limitações de armas estratégicas, e preveem que esses equipamentos devem permanecer visíveis para satélites a todo o tempo.
Alguns dos aviões de guerra da Rússia alvejados por ataque surpresa de drones da Ucrânia em 1º de junho de 2025 tinham pneus em cima da fuselagem.
Serviço de Segurança da Ucrânia
Imagens de satélite mostram o estrago
Imagens mostram aviões militares na base de Belaya, na Rússia, uma das atacadas por drones russos, antes e depois do bombardeio, em junho de 2025.
Planet Labs PBC e Capella Space via Reuters
Imagens feitas por satélites registraram como ficaram bases militares da Rússia atingidas pelo ataque da Ucrânia com drones escondidos em caminhões no fim de semana.
As imagens foram feitas na base de Bekaya, uma das cinco atacadas pela ação de Kiev que pegou a Rússia de surpresa (leia mais abaixo). E mostram vários bombardeiros destruídos ou gravemente danificados (veja acima).
Os registros foram feitos por duas empresas de satélites e fornecidos à agência de notícias Reuters.
“Com base nos destroços visíveis, na comparação com imagens de satélite recentes e nas imagens de drones divulgadas pelo Telegram e postadas no Twitter, posso ver a destruição de várias aeronaves”, disse John Ford, pesquisador associado do Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação, com sede na Califórnia.
Operação Teia de Aranha
Vídeo mostra o momento em que drone sai de caminhão no ataque na Sibéria
A Ucrânia destruiu mais de 40 aviões com capacidade nuclear na Sibéria no domingo (1º). A operação, chamada de Teia de Aranha, pareceu tirada de um roteiro de ação de Hollywood, com drones saindo de compartimentos escondidos em contêineres.
O serviço secreto ucraniano escondeu drones dentro de contêiners de caminhões, que circularam disfarçados por diversos pontos do território russo, até a proximidade das bases, de onde os drones voaram despercebidos e destruíram mais de 40 aviões com capacidade nuclear, cerca de um terço da frota militar aérea russa.
O ataque surpreendeu pelo local, a mais de 4.000 km do front da guerra, e o método de ação, que usou caminhões para levar contêineres com drones e explosivos escondidos no teto.
As autoridades russas foram pegas de surpresa pela Ucrânia. A Rússia considerou os ataques como um ato terrorista.
O presidente Volodimyr Zelensky considerou a operação como “brilhante” e “nossa operação de maior alcance”.
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, os drones danificaram aviões e causaram incêndios em quatro bases aéreas da região de Irkutsk, a 4.300 km da Ucrânia e próximo da Mongólia, e em cidades do norte russo, como Murmansk.
Onde ocorreu a operação?
Essa distância vai além do alcance de drones de ataque de longo alcance ou mísseis balísticos do arsenal ucraniano e precisou de um esquema especial para levar os drones até os alvos.
A Rússia disse ainda que conseguiu reprimir ataques na região de Amur, no extremo leste do país, e em Ivanovo e Ryazan, no oeste.
Como foram feitos os ataques?
Foto mostra trecho de vídeo divulgado pelo serviço secreto da Ucrânia com aeronaves russas atingidas por drones na base aérea de Belaya, na Sibéria, em 1 de junho de 2025.
Serviço Secreto da Ucrânia/AFP
A operação Teia de Aranha transportou os drones por caminhões para o território russo, escondidos no teto de contêineres.
Os drones estavam armados com explosivos e foram colocados entre painéis de madeira no teto de contêineres.
Antes do ataque, esses contêineres foram levados de caminhão ao perímetro das bases aéreas.
Na hora do ataque, o topo dos contêineres foi levantado por um mecanismo remoto, permitindo aos drones voar e iniciar o ataque.
Quais aeronaves foram atingidas?
Até o momento, as informações das agências de notícias citam que foram atingidos 41 aviões estacionados em diversos campos aéreos. A lista inclui bombardeiros A-50, Tu-95 e Tu-22M.
Moscou já usou o Tupolev Tu-95 e Tu-22, bombardeiros de longo alcance, para lançar mísseis contra a Ucrânia. Os A-50 são usados para coordenar alvos e detectar defesas aéreas e mísseis guiados.
Diferentemente de mísseis, que podem ser substituídos com facilidade, os aviões não devem ser repostos tão cedo pela Rússia.
Segundo o jornal “Financial Times”, citando a inteligência ucraniana, os ataques causaram mais de US$ 7 bilhões em danos e que 34% da frota de aeronaves estratégicas de transportes de mísseis foi atingida.
Quanto tempo levou o planejamento da missão?
A operação Teia de Aranha levou um ano e meio entre planejamento e ação e foi supervisionada pelo presidente Volodimyr Zelensky e por Vasyl Maliuk, chefe da agência de inteligência doméstica (SBU).
O governo ucraniano informou que os Estados Unidos não foram avisados previamente da operação Teia de Aranha.
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2025/06/07/russia-usou-pneus-para-camuflar-avioes-de-combate-e-tentar-enganar-drones-da-ucrania-entenda-por-que-nao-funcionou.ghtml