STF e seus aliados criaram um problema insolúvel para o Brasil

STF e seus aliados criaram um problema insolúvel para o Brasil

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 16 de abril de 2025)

O STF e o seu limitado sistema de apoio criaram um problema insolúvel para si próprios e para o Brasil. Por ser insolúvel, não será resolvido, e por não ser resolvido só irá trazer problemas novos. Há todo um esforço sobre-humano para se fazer de conta que a casa continua perfeitamente de pé, funcionando como qualquer casa de respeito deve funcionar. Mas no mundo das realidades práticas não é assim. O teto caiu, as paredes ruíram e o piso afundou; estão todos tomando chuva, sol e vento, e sentam-se para jantar fingindo que está tudo bem. Não pode dar certo.

O problema sem solução é que o regime Lula-STF inventou, por razões que só eles mesmos poderiam expor de forma compreensível, uma tentativa de golpe de Estado, dois anos atrás, que simplesmente nunca ocorreu. Ao mesmo tempo, juntou a essa fraude a maior aberração, possivelmente, já ocorrida na história da Justiça brasileira: um inquérito policial que já dura mais de seis anos, deu-se o direito de se meter em qualquer assunto ligado à atividade humana, de notícias falsas a conversas particulares no WhatsApp, e submeteu à vontade do ministro Alexandre de Moraes a liberdade, a propriedade e todos os direitos civis dos 200 milhões de brasileiros.

A soma e a retroalimentação dessas duas demências criaram a charada que está aí. À essa altura, para começar, está mais do que óbvio, até para um advogado de porta de cadeia, que o regime nunca vai apresentar uma única prova séria de que houve realmente uma tentativa de golpe armado em 8 de janeiro de 2023 — incentivada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns militares do seu entorno. Não vai apresentar as provas porque não pode, materialmente, apresentar prova de um golpe que não existiu. A consequência disso é que vão se ver obrigados a fabricar alegações cada vez mais absurdas, e a única coisa que vão provar, mesmo, é que a sua acusação é integralmente inepta.

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O fato, cada vez mais insuportável para o STF e o sistema de propaganda que opera à sua volta, é que não houve o raio do golpe — ou, se houve, o Estado brasileiro, com a imensidão de sua máquina e dos seus recursos, não conseguiu demonstrar isso de forma decente após mais de dois anos de investigação. É possível passar o resto da vida falando sobre isso, mas o que realmente interessa é a natureza da bactéria que causou a infecção: toda a causa do regime, no fundo, se baseia nas declarações, já alteradas meia dúzia de vezes, de uma única testemunha. Xeque-mate.

Nenhum tribunal sério, em nenhuma democracia do planeta, aceitaria a delação do coronel Cid como prova de nada. Mas aqui o STF e quem lhe dá apoio se condenaram a insistir que aconteceu, sim senhor, algo que eles não podem provar — e essa opção os condena a se afundar cada vez mais na produção de erros novos para justificar os erros antigos que já cometeram. A única solução possível para isso seria a anistia. De um lado os réus, suspeitos e acusados ficam livres dos processos que o STF socou neles. De outro, o regime fica livre da obrigação impossível de provar coisas que não aconteceram e mostrar ao mundo que está fazendo justiça. Mas a anistia, justamente, é tudo o que a junta STF-Lula não admite.

“O regime do STF, de Lula e da esquerda pode mostrar, cada vez mais, que tem a força. Mas nunca será capaz de mostrar que tem a razão” (J. R. Guzzo)

É, realmente, um caso clínico em matéria de transtorno obsessivo na criação de bichos de sete cabeças que poderiam muito bem ter só uma ou duas — ou provavelmente nenhuma. Do jeito que está, não se pode ter nem a prova do crime, porque o crime não existe, e nem a anistia para quem não cometeu o crime que não foi cometido. Para simplificar: é humanamente impossível achar que faz algum nexo condenar a mais de 17 anos de cadeia pessoas que participaram de um quebra-quebra, não mais que isso, com a agravante de que o STF considerou desnecessário provar quem quebrou o quê.

A grande justificativa apresentada pelo STF é que a anistia “não é uma demanda da sociedade brasileira”, e nem uma questão “urgente”. É mesmo? E quais seriam as demandas prioritárias que o regime Lula-STF está atendendo no momento, e que desaconselhariam o atendimento de outras como a anistia? Aliás, quem autorizou os ministros do Supremo e seus fiéis a estabelecerem quais são as demandas da sociedade brasileira? O que se sabe é que a única manifestação de rua que houve até hoje contra a anistia foi um miserável fiasco de público — e as fotos das manifestações a favor, no Rio e em São Paulo, mostram um apoio incomparavelmente maior.

De qualquer forma, tanto faz se há demanda da sociedade ou se não há: do ponto de vista moral, com ou sem demanda, não é possível admitir que uma trabalhadora manual sem um tostão no banco, nenhuma influência e nenhum antecedente criminal, seja condenada a 14 anos de prisão por pichar com batom uma estátua em Brasília. Pelo escândalo indecente que é sua prisão, a moça se transformou num alvo preferencial da ira de Moraes e da esquerda. Ela não foi condenada só pelo batom, dizem, e sim pelo golpe armado que estava cometendo. Aí fica pior ainda. O batom, pelo menos, ela de fato usou. Mas derrubar o governo?

“Tenha dó”, diria Alexandre de Moraes. É realmente o caso de ter dó da desonra que os ministros do STF e os apoiadores de sua conduta estão exibindo em plena luz do dia — para não se falar da compaixão que merecem todos aqueles que estão trancados nos seus cárceres. É tudo uma tragédia. O regime que nega, indignado, a anistia para os réus de um golpe imaginário, é a favor da anistia para homicidas, assaltantes de banco e sequestradores que queriam derrubar a ditadura dos militares para colocar no governo a sua própria ditadura. Esses viraram heróis; concorrem até ao Oscar.

É impossível que isso tudo venha a fazer sentido algum dia. Na verdade, vai fazer cada vez menos sentido à medida em que o tempo for passando. O regime do STF, de Lula e da esquerda pode mostrar, cada vez mais, que tem a força. Mas nunca será capaz de mostrar que tem a razão.

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