Justiça suspende contratos em prefeitura após denúncia contra vice por pagar mãe de santo com verba pública

Justiça suspende contratos em prefeitura após denúncia contra vice por pagar mãe de santo com verba pública

Juliana Maria Teixeira da Costa, vice-prefeita de Ribeira (SP), foi denunciada por usar R$ 41,2 mil de verba pública para pagar ‘casamento espiritual’
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A Justiça acolheu o pedido do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e determinou a suspensão dos contratos de pregões sob suspeita de fraude entre a Prefeitura de Ribeira (SP) e a empresa W.F. Da Silva Treinamentos Ltda., de propriedade de William Felipe da Silva. Além desses contratos, outros firmados com a mesma empresa também foram interrompidos por decisão judicial.
William foi denunciado ao lado da vice-prefeita e secretária de Saúde, Juliana Maria Teixeira da Costa, pelo desvio de R$ 41,2 mil, valor supostamente destinado ao pagamento de uma mãe de santo, conhecida como Mentora Samantha — repasse feito pela empresa W.F.
O coordenador municipal de Saúde e técnico de enfermagem, Lauro Olegário da Silva Filho, também foi denunciado. Ele trabalha com a vice-prefeita e, foi para ele, que Juliana teria contratado um serviço de amarração espiritual, com o objetivo de afastar o servidor da esposa.
Em nota, o advogado de William afirmou que seu cliente demonstrou disposição em colaborar e esclarecer os fatos ao se apresentar à promotoria. Ele minimizou os vínculos com os outros denunciados, classificando-os como naturais em qualquer organização (leia mais abaixo).
O g1 tentou contato com as defesas de Juliana e Lauro, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
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Suspensão e proibições
Além da suspensão dos contratos, a decisão da Justiça de Apiaí, de 1º de agosto e obtida pela equipe de reportagem, também proibiu a Prefeitura de Ribeira de firmar novos acordos com a W.F. Da Silva Treinamentos Ltda., até que haja uma determinação judicial em sentido contrário.
Segundo o documento, a Justiça ordenou que serviços essenciais à população, como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os plantões médicos, sejam mantidos pela administração municipal por meio de contratações emergenciais ou outros meios legalmente permitidos.
“A suspensão dos contratos administrativos em questão não causa prejuízo irreversível, podendo o município reorganizar a prestação dos serviços médicos e de Samu através de nova licitação idônea ou contratação emergencial, se necessário. O interesse público superior na moralidade administrativa e preservação do erário justifica a medida”, defendeu a Justiça.
O g1 procurou a Prefeitura de Ribeira, mas não obteve resposta até a última atualização da reportagem.
Defesa do empresário
O advogado Yuri Amaral Nazareth, que defende William, afirmou que seu cliente demonstrou compromisso com a verdade ao se apresentar à promotoria para esclarecer qualquer mal-entendido.
Yuri disse que os vínculos profissionais anteriores entre os envolvidos, como Lauro ter atuado na W.F. e Juliana conhecer William, são comuns e não devem ser vistos como indícios de irregularidades.
“Quanto às alegações de desvio de recursos, é crucial enfatizar que William está comprometido em esclarecer essa situação completamente. A ausência de documentação mencionada pode ser atribuída a dificuldades circunstanciais, mas não necessariamente a intenções maliciosas”, disse o advogado.
Ele também criticou o uso político da Justiça e o julgamento exacerbado nas redes sociais. “É essencial que as investigações sigam seu curso legal, sem influências externas que possam desvirtuar a busca pela verdade”.
Entenda o caso
O promotor Renan Mendes Rodríguez, da Promotoria de Justiça da Comarca de Apiaí, ofereceu a denúncia contra o trio no dia 30 de julho. Na mesma ocasião, o Ministério Público de São Paulo solicitou à Justiça a fixação das seguintes medidas cautelares contra os envolvidos:
Proibição de acesso e frequência à prefeitura de Ribeira e à todas as secretarias, dependências e imóveis;
Proibição de contato com todas as testemunhas arroladas na denúncia, bem como com servidores da área da saúde e dos departamentos de compras, licitação e contratos, contabilidade e tesouraria;
Proibição de se mudar de endereço e de se ausentar da comarca de residência por mais de 7 dias sem prévia comunicação;
Suspensão do exercício de funções públicas, inclusive daquelas atualmente exercidas pelos denunciados, com afastamento imediato de Juliana dos cargos de vice-prefeita e secretária municipal de Saúde e de Lauro dos cargos de coordenador da saúde e técnico de enfermagem.
Denúncia
Vice-prefeita de Ribeira (SP) foi denunciada pelo MP por suposto repasse de R$ 41 mil para ‘casamento espiritual’
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De acordo com o MP-SP, os denunciados teriam se associado para praticar crimes contra a administração pública, fraudando dois pregões com o objetivo de direcionar os contratos à empresa W.F., de propriedade de William Felipe da Silva.
A denúncia aponta que Juliana, vice-prefeita, e Lauro participaram da prorrogação dos contratos oriundos dessas licitações fraudulentas, favorecendo diretamente a empresa contratada.
Após Juliana assumir também o cargo de secretária de Saúde, Lauro passou a receber pagamentos do município por meio de dispensas de licitação, acumulando irregularidades, segundo o MP-SP.
Entre elas, estão: ressarcimento de viagens não especificadas e prestação genérica de serviços em múltiplas áreas, como jardinagem, informática, gráfica, sublimação de camisetas e enfermagem.
Casamento espiritual
Segundo o MP-SP, William e a vice-prefeita Juliana utilizaram documento falso em nota fiscal apresentada à Secretaria Municipal de Saúde e, depois, exibida ao Departamento Financeiro. Com isso, subtraíram R$ 41,2 mil do Fundo Municipal de Saúde.
A nota emitida por William, em nome de sua empresa W.F., indicava falsamente, segundo o documento, a prestação de serviços médicos entre 1º e 21 de agosto de 2024, período em que a Estratégia da Família não funcionava. Apenas 12 minutos após a emissão, o pagamento foi efetuado pela prefeitura. O valor foi então transferido por William a um terceiro, sem vínculo com a área da saúde.
A promotoria também apurou um suposto pagamento à ‘Mentora Samantha’, revelado por meio de capturas de tela divulgadas por um perfil nas redes sociais e denunciado por um vereador. O valor, de R$ 41,2 mil, teria saído da conta da empresa de William.
Segundo a denúncia, Samantha confirmou ter sido contratada por Juliana para realizar um “casamento espiritual” com Lauro, com o objetivo de afastá-lo da atual esposa.
O MP-SP afirmou que o uso de recursos públicos para contratar uma mãe de santo configura crime de peculato: “O dinheiro do Fundo Municipal de Saúde deve ser destinado exclusivamente à saúde pública”.
Juliana e William foram denunciados por associação criminosa, fraude à licitação, uso de documento falso, falsidade ideológica e peculato. Lauro, por sua vez, responde por associação criminosa, fraude à licitação e concurso material.
Foi solicitada reparação dos danos no valor mínimo de R$ 41,2 mil, conforme o artigo 387, inciso IV, do Código de Processo Penal (CPP). A Prefeitura de Ribeira e a Mentora Samantha foram procuradas pelo g1, mas não responderam até a última atualização.

Sobre Ribeira
Vice-prefeita de Ribeira (SP) foi denunciado pelo MP por suposto repasse de R$ 41 mil para ‘casamento espiritual’
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Ribeira é o município com menor população do Vale do Ribeira, localizado no interior do estado de São Paulo. De acordo com o Censo 2022 do IBGE, possui 3.132 habitantes, sendo a maioria residente na zona rural.
O acesso ao transporte público é limitado, o que impacta diretamente as rotinas e a economia local. A cidade faz divisa com Adrianópolis, no Paraná, por meio de uma ponte sobre o Rio Ribeira de Iguape.
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Fonte: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2025/08/04/justica-suspende-contratos-em-prefeitura-apos-denuncia-contra-vice-por-pagar-mae-de-santo-com-verba-publica.ghtml

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